Por aqui tudo continua lindo.

Deixe um comentário

 Àquela senhora que passa

E sente em seu rosto, já abatido pelo tempo,

a leveza do mar.

Ela vive. Vive sentido a brisa do mar.

Talvez o seu caminhar não perceba

A graça de ali estar.

Mas, eu que por ali passava,

Não percebi o riso da criança que brincava.

Brincava na areia,

Brincava no mar.

Talvez fosse o teu brinquedo

Um fantoche do meu coração.

Que perdido estava

Em uma vaga tentativa de se encontrar

Naquele riso da criança.

No caminhar da criança

Que avança pelo mar em direção àquela velha anciã.

Nos pequenos pés que percorrem a areia.

Uma pequena caixa que se move.

Uma caixa de parafusos que têm o doce nome: “Criança”.

E o brilho dos olhos dela

Não coube no por do sol.

 

Ouviu-se o tilintar do cavaco.

E o gemido do pandeiro.

Já é noite na Lapa.

E os corpos que ali se movem

Pouco se distinguem entre si.

A única exceção são as pernas

Finas da criança que se movem.

Da criança que em seu brincar,

Tenta imitar a dança,

Daquela carioca que

Se move.

 

E faz do seu rebolado

O perscrutador dos olhos, afoitos,

Que ali espreitam.

Os amigos ao seu redor

Seguem o riso da madrugada.

E o calor incandescente que se aproxima

Faz queimar a menina dos olhos

Daquela morena.

 

O primeiro raio de sol se aproxima.

Já é dia na Lapa!

E a criança que por ali

Brincava.

E mendigo que por ali

Deitava.

Agora jazem embalados nos braços de Morfeu.

E a menina dos olhos, agora queimada,

Percebe que já é hora

De dar aos passos da Morena,

Um descanso.

Bem vindos. Estamos no Rio.

 

Texto produzido em parceria: Gleyson e Miriam.

 

 

O desejo das ondas ou os olhos de Afrodite

Deixe um comentário

Vivo.

Espaços vazios esvaziam a minha existência.

Os sopros desses lugares atraem os desavisados.

E, assim eles caem no escuro.

Escuro, vazio, impalpável.

Isso bem pode ser o amor!

Este anda na escuridão, preenchendo o vazio, tocando o impalpável.

Oh, Ulisses. Como é nobre tua causa.

Esperas o amor de Penelope.

Porque não descuidar do amor?

Que tens tu por ele?

O amor pode bem ser as ondas do mar que o arrasta de volta a Ítaca.

Pode bem ser.

Certamente, não há para nós, vivendo as expensas do amor, o amor. Surgindo das ondas.

Não, amar, amores, não. Não vivemos mais assim.

Cabe-nos agora fletarmos as ondas do mar, com elas, ingenuamente, nos trazendo lembranças de Ítaca.

Poema inconcluso

Deixe um comentário

Quando vejo o mundo não o vejo tão somente.

Consigo conspurcar de mim, os terrores metapsiquicos.

Estar alem da alma, o que estiver alem da alma.

Terá que estar no mundo.

Vejo um caminhante passar, rogando a sua alma

Que ela o espere.

Ele, em sua pressa, por vezes abandonou-a.

Fica-se assim.

Embeber-se em vícios, esquecendo-se da pureza que pode haver

Na busca da alma através dos vícios

(Poema inconcluso)

Scriptum’s

2 comentários

Hoje, meu escrever é insone.

Hoje, ele é mortalmente relevante.

Ele não traz ingredientes, traz a unidade.

Se um dia ele foi fragmento, hoje já não mais o é.

Ele quer entregar a quem o lê todo o teu elã vital.

Queres de mim uma explicação?

Eu não a tenho. Meu texto nessas horas é apenas uma psicografia.

E eu, caro leitor, sou o mecanismo que faz a transposição pura do meu escrito,

para esse rústico papel.

O que meu escrito tem a lhe dizer? Veja!

“Bom dia (tarde,noite), aos seres que interpretam a mim. Pelas mãos

deste inocente escritor, que tomei de pronto para entregar ao mundo as

minhas verdades.

ser que me interpreta, não faz idéia do quão útil sou a

teus caprichos, as tuas virtudes.

vejo-o as vezes passar por mim – com os teus olhos – e ver-me apenas imageticamente.

Que levas, tu de mim, apenas pondo os olhos sobre mim. Deves me degustar,

como fazia como fazia Baco em suas orgias. Baco em suas orgias captava

apenas os devir alcoólico ao passo que tu tens em mim, a chave para ti.

Se não me faço compreender, explico-me melhor.

Ser interpretante, já reparaste que quando afugentas teus olhos

em mim, dou a eles um brilho especial.

Assim o é, caríssimo. Esse brilho é uma pequena parte do que vai

formar o mecanismo de desvelamento do mundo.

Ou seja, se queres a compreensão do todo terás indubitavelmente que dar-me,

teu entendimento. Para que eu o molde com a perfeição dos traços do mundo

como um todo, melhor dizendo, como ele o é em sua plenitude.”

Com os cumprimentos deste “inominado” escrito.

 

________________________

– Uma incógnita?

– A humanidade (o homem).

– Um mito?

– A liberdade.

– Uma justiça viável?

– A dos Epicuristas.

– Um medo?

– O de se prender ao passado, futuro e principalmente à morte.

– Uma saída viável para ela? À morte?

– Se imaginar, após a morte, como um fragmento do cosmo (Visão estoicista). Risos.

Ainda não tenho uma opinião formada a respeito do assunto.

– Uma guerra?

– Não a guerra, mas a beleza dela. A guerra de Tróia.

– Uma beleza da guerra?

– Compare àquela (guerra de Tróia) com esta – a segunda guerra mundial, – há alguma

beleza nesta, excetuando a arquitetura em ruínas!?

– As ruínas ou o caos?

– O caos.

– O Caos?

– É nele que temos – se é que há, – um ordenamento do cosmo.

– Quem ordena o todo?

As palavras ou a vida

2 comentários

O escrever para si mesmo

É dadivoso e não-dispersante.

Porque quando colocamos no papel

Os resquícios da nossa razão confirmamos

Com maior vigor o que estava confinado

Na periferia do entendimento.

Mas, ao escrever para o outro

Transformamos o conjunto do que

Estava posto no papel, em dimensão

Multifacetada. Cada novo olhar

Coloca no texto uma nova dinamite.

E em pouco tempo tens do texto apenas

Àquela folha que utilizaste para pô-lo em vida,

Pois já não há mais sequer vestígios dele. Cada

Parte dele esta guardada – segundo a afinidade –

Nas mentes dos transeuntes que por ali passaram e

Que fizeram da unidade do texto um todo desarticulado.

E essa desarticulação são as partes que se juntarão para

Formar uma trama universal.

Que é essa trama universal senão a vida?

Ode aos homens*

Deixe um comentário

Que há de ser dessas planícies!?

Assolada pelo mormaço dos dias

E pelos uivos lancinantes de ferozes

Animais.

Zéfiro. Este nome é digno de lealdade.

Traz as planícies o fulgor dos animais.

Faz com que Ceres distribua por ai

O seu melhor.

E se há entre essas planícies belicosos

Animais é porque não esta no poder

Daquele Deus conter a ira do guardião

Do jardim.

Com doze, extenuantes trabalhos,

Preenche teus dias Hércules. Com horror

Semideus olharias para mim. Ao ver-me

Do berço ate agora preenchendo essas folhas,

Em busca de um premio. Premio já não há como

Em teu doce tempo mitológico. Nada está destinado

A mim. Nem a mais bela dama quanto mais o aclamado

Nobel.

Mas mesmo assim escrevo, cumprindo assim

As virtudes paupérrimas terrenas.

* Edgar Alan Poe, Ode a Santa Cecilia 

 

Entre os ébrios

Deixe um comentário

Pobre é o prazer do ser humano!

Do ser humano que intenta ir alem

Do céu. (homem lendo um cartaz)

Ébrio 1 – Ir alem do céu? Que prazer podes tu encontrar La?

Ébrio 2 – [recorte na conversa]… Regalias epifanicas ou não seriam minhas

E 1 – Pudera eu aqui na terra, dar-te o que pedes ao céu.

E 2 – Somente no céu, vejo a concretude.

E 1 – E pensar que teorias afirmam ele desmoronando sobre nossas cabeças.

E 2 – Em momento oportuno, ele virá ate mim.

E 1 – Suas escolhas não o trarão a você.

E 2 – Minhas escolhas são fruto da imundície preconizada por Rousseau.

E 1 – Não culpe tamanho erudito por suas rabugens metafísicas.

E 2 – Só há uma verdade.

E 1 – A mim não cabe tal juízo. Ainda não criei suficientemente bem o meu mundo para dar ordens de um retorno vindouro.

E 2 – (Puffff). Não o vejo tão bêbado assim desde longa data.

Procede o dialogo.

Sorvendo teu gosto

Deixe um comentário

Ao longe, atingido pelo calor que corta

A minha visão, com espaçadas interrupções, vejo-te.

Entre você e eu: a distancia.

Na distancia que nos separa: a impossibilidade

De tê-la.

Não quero vê-la a metros de distancia.

Não quero vê-la próximo de mim.

Não poderia vê-la. Minha frágil retina

Recusar-se-ia a levar ao cérebro a mensagem

Captada.

E assim eu corro,

Na esperança de que velocidade quebre

A tênue barreira que há entre o teu

Mundo e o mundo real.

Nem Hesse* conseguiria criar um mundo de

Espelhos como o teu. Fui embebido

De teu mundo perfeito, acreditando eu

Estar às portas do indescritível.

Indescritível como a cintilancia de uma

Gota cristalina caindo do alto…

Oh, desatino. Ainda me encontro aqui,

Neste bar fantasiando um de meus amores

Que estão por vir.

*Herman Hesse, O lobo da estepe.

Reflexões sobre o mar

Deixe um comentário

Pegadas na areia,

Denunciam que você por aqui esteve.

Em vão, meus olhos tentam reconstruir

No chão, o caminho que você trilhou.

De que me valem suas pegadas ali?

Certamente o mar se encarregou

De levar com ele, as lindas formas

Dos teus pés, marcados na areia.

Talvez o mar nunca tenha ido

A uma escola mais próxima

Estudar à metafísica.

Se tivesse, ah, quanto desdém

Haveria em sua necessidade

Natural de vir até a praia lavar

Os pés dos que ali passeiam.

O mar é um legítimo ladrão metafísico.

Rouba do caminhar das pessoas,

A sua essência. E mais do que isso,

Rouba de mim a candura impressa

Dos teus passos na areia.

Homenagem a Copacabana – Rio de Janeiro

Pensamentos

1 Comentário

“Quem escreve sem endereço,

Espera que seus escritos sejam

Endereçados a toda humanidade.”

“Quando o homem volta ao seu

Estado instintivo veste duas máscaras:

Uma simboliza a vida à outra a morte.

Simples caso do fato de ter de si

Uma posição holística.”

“Dizer ao outro o que ele deve ou não

Fazer é improcedente e incorreto.

O que se deve fazer é ajudá-lo a

Reconstruir os fatos com uma visão

Epistemologicamente despojada de

Favoritismos.”

“O sono sempre foi meu amigo.

A noite eu sempre me escondo

De sua presença

E de dia, ele sempre insiste

Que eu durma para que eu encontre

No mundo onírico.”

– Dedico este pensamento aos freudianos.

Older Entries